Ana V. é uma boa menina. Ela namorou um garotinho da 6 B durante
todo o colégio e teve um outro namorado na faculdade, se formou, arrumou um bom
emprego e vai casar com seu segundo namorado. Tudo lindo, tudo certo. Mas enquanto eu a vejo escolhendo a cor do lacinho do bem- casado eu só consigo ter pena por tudo que ela não viveu e não sabe sobre viver.
A Ana V. não sabe, por exemplo, como é bom sair a
noite e acabar acordando em uma casa desconhecida e pensar por alguns segundos "que
merda", mas ser surpreendida por um café da manhã preparado por um cara
que não quer casar e ter filhos com você, mas que é legal o suficiente para
virar um ótimo amigo. Porque ela também não sabe o que é ter amigos homens que dão dicas sobre como fazer um bom boquete, sem necessariamente querer um em troca, o namorado nunca deixou e ela sempre achou que todos estavam apaixonados por ela, pobre Ana V.
Ela não sabe o que é mentir pros pais
dizendo que vai dormir na casa de uma amiga, mas ir pro bar beber com mais 4
mulheres, chamando o garçom pelo nome e reclamando que não tem homem no mercado,
mesmo paquerando com os carinhas da mesa ao lado. A Ana V. só mentia pra dormir
com o namorado.
A Ana V. nunca tentou pegar um taxi de madrugada, sozinha e no meio da chuva aproveitando pra purificar a alma, sem ligar pra chapinha e pra maquiagem. A Ana V. luta por sua
chapinha e maquiagem com unhas e dentes e ela sempre teve um namorado pra resolver esses problemas.
A Ana V. não se sente agredida quando
recebe cantada na rua, porque ela pensa "ah homem é assim mesmo" e no
fundo ela precisa disso pra alimentar o ego, então nem preciso dizer que ela
não se preocupa com questões feministas sobre igualdade entre os sexos, porque "homem é assim mesmo" não é Ana V.!?
Ela não sabe como é ruim acordar de
ressaca, porque ela nunca ultrapassou seus limites. Não sabe como é bom dançar até
o chão com seu melhor amigo gay, sem se preocupar se seu cabelo está todo
assanhado, se a calcinha está aparecendo ou se estão olhando. A Ana V. também não
sabe como é bom usar cueca, ou melhor, tomar banho de mar bêbada depois da
balada só com a dita cueca e soutien.
A Ana V., toda arrumadinha, não sabe o que
é ser enganada por um cara que fez promessas de um futuro quando só queria
sexo, mesmo você não precisando de promessas de um futuro pra dá. Ela não sabe
como é ruim chorar por esse mesmo cara e depois rir de como
está sendo tonta e passar o Rub Woo da M.A.C pra sair com os amigos pra qualquer balada. A Ana V. não sabe se aguenta sozinha.
Ela não sabe o que é se apaixonar por
homens como o Cícero, o Gabito Nunes, o Phill Veras ou o "Eu me chamo Antônio", que
ninguém nunca viu e que pode ser até uma mulher, porque ela não vê nada além de músculos ou carro ou a conta do
barzinho paga, porque ela não enxerga grandes corações, nem sente belas palavras.
A Ana V. não sabe como é bom olhar pra um
pau novo e como é bom ver que ele também gostou de você. Como é dividir a conta
do restaurante e depois a conta do motel e não se sentir a sobremesa, mas bem servida e de barriga cheia.
Ela também não sabe como é dormir de
maquiagem e acordar com os cílios todos colados de rímel e lembrar que leu em algum lugar que dormir de maquiagem envelhece, e pensar "Que merda!", mas não se
preocupar, porque você sabe que uma hora sua bunda vai cair mesmo, como todas as outras bundas
por aí, mas vão ficar todas essas experiências, a independência conquistada a
tapas, seu coração e sua coragem de encarar a vida.
O que a Ana V. não sabe é que mesmo com
todas as algúrias é uma delícia ser uma MULHER dessas, dessas de verdade.
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