domingo, 24 de novembro de 2013

A Ana V.

Ana V. é uma boa menina. Ela namorou um garotinho da 6 B durante todo o colégio e teve um outro namorado na faculdade, se formou, arrumou um bom emprego e vai casar com seu segundo namorado. Tudo lindo, tudo certo. Mas enquanto eu a vejo escolhendo a cor do lacinho do bem- casado eu só consigo ter pena por tudo que ela não viveu e não sabe sobre viver.

A Ana V. não sabe, por exemplo, como é bom sair a noite e acabar acordando em uma casa desconhecida e pensar por alguns segundos "que merda", mas ser surpreendida por um café da manhã preparado por um cara que não quer casar e ter filhos com você, mas que é legal o suficiente para virar um ótimo amigo. Porque ela também não sabe o que é ter amigos homens que dão dicas sobre como fazer um bom boquete, sem necessariamente querer um em troca, o namorado nunca deixou e ela sempre achou que todos estavam apaixonados por ela, pobre Ana V.

Ela não sabe o que é mentir pros pais dizendo que vai dormir na casa de uma amiga, mas ir pro bar beber com mais 4 mulheres, chamando o garçom pelo nome e reclamando que não tem homem no mercado, mesmo paquerando com os carinhas da mesa ao lado. A Ana V. só mentia pra dormir com o namorado. 

A Ana V. nunca tentou pegar um taxi de madrugada, sozinha e no meio da chuva aproveitando pra purificar a alma, sem ligar pra chapinha e pra maquiagem. A Ana V. luta por sua chapinha e maquiagem com unhas e dentes e ela sempre teve um namorado pra resolver esses problemas.

A Ana V. não se sente agredida quando recebe cantada na rua, porque ela pensa "ah homem é assim mesmo" e no fundo ela precisa disso pra alimentar o ego, então nem preciso dizer que ela não se preocupa com questões feministas sobre igualdade entre os sexos, porque "homem é assim mesmo" não é Ana V.!?

Ela não sabe como é ruim acordar de ressaca, porque ela nunca ultrapassou seus limites. Não sabe como é bom dançar até o chão com seu melhor amigo gay, sem se preocupar se seu cabelo está todo assanhado, se a calcinha está aparecendo ou se estão olhando. A Ana V. também não sabe como é bom usar cueca, ou melhor, tomar banho de mar bêbada depois da balada só com a dita cueca e soutien.

A Ana V., toda arrumadinha, não sabe o que é ser enganada por um cara que fez promessas de um futuro quando só queria sexo, mesmo você não precisando de promessas de um futuro pra dá. Ela não sabe como é ruim chorar por esse mesmo cara e depois rir de como está sendo tonta e passar o Rub Woo da M.A.C pra sair com os amigos pra qualquer balada. A Ana V. não sabe se aguenta sozinha.

Ela não sabe o que é se apaixonar por homens como o Cícero, o Gabito Nunes, o Phill Veras ou o "Eu me chamo Antônio", que ninguém nunca viu e que pode ser até uma mulher, porque ela não vê nada além de músculos ou carro ou a conta do barzinho paga, porque ela não enxerga grandes corações, nem sente belas palavras.

A Ana V. não sabe como é bom olhar pra um pau novo e como é bom ver que ele também gostou de você. Como é dividir a conta do restaurante e depois a conta do motel e não se sentir a sobremesa, mas bem servida e de barriga cheia.

Ela também não sabe como é dormir de maquiagem e acordar com os cílios todos colados de rímel e lembrar que leu em algum lugar que dormir de maquiagem envelhece, e pensar "Que merda!", mas não se preocupar, porque você sabe que uma hora sua bunda vai cair mesmo, como todas as outras bundas por aí, mas vão ficar todas essas experiências, a independência conquistada a tapas, seu coração e sua coragem de encarar a vida.

O que a Ana V. não sabe é que mesmo com todas as algúrias é uma delícia ser uma MULHER dessas, dessas de verdade. 

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